Sobre a repressao em Porto Seguro
Tlahui-Politic 9 I/2000. Información enviada a Mario Rojas, Director de Tlahui. Brasil, a 24 de Abril, 2000. Sobre a repressao em Porto Seguro.
500 anos depois da primeira invasao e exclusao, a repressao continua a
mesma na Bahia e no Brasil!
Segue abaixo um ponto-de-vista individual. A ida, o acampamento, os
protestos, a repressao. Tudo para tentarmos entender o que la se passou.
Na ida para Porto Seguro ja se esperava que o clima fosse hostil em
relacao a qq caravana q se dirigisse para la. Na sexta-feira, dia 21,
havia mais de 12 barreiras antes de Porto Seguro. No entanto, o q se viu
foi PMs, em sua maioria, muitos educados, fazendo uma revista soh pra
ingles ver, e ateh desejando boas festas e diverssoes. Muito estranho,
mais chegando ao local do acampamento, em Sta Cruz de Cabralia, algumas
pessoas diziam que eles estavam cordiais porque nao tinham recebido um tal
auxilio, dai dava pra acreditar.
No acampamento alguns, empolgados antes da hora, diziam q a PM ate nos
apoiaria na manifestacao. Porem nao era isso que se via no acampamento. A
todo instante, sobrevoavam helicopteros e carros da PM passavam observando
a situacao. Nessa altura, chegou-se a pensar em ir para Porto Seguro (PS)
a noite de sexta-feira porque seria feito novas barreiras pela manha e
ninguem entraria em PS. Felizmente essa ideia foi abandonada (se saissemos
a pancadaria comecaria a noite) e no acampamento foi decidido sair pela
manha, as 6h, se encontrar com os indios que estavam na Conferencia
Indigena a uns 3 km dali, e ainda pela manha, marchar juntos com eles ate
a tal cruz inoxidavel, um local onde construiram varias edificacoes
comerciais para os indigenas, desapropriaram casas e deram de presente aos
pataxos, os quais sao a maioria na regiao. Por ai se tem uma ideia de que
lado os nativos estavam.
Pela manha do sabado, dia 22, comecou-se a desmanhar o acampamento,
observados pelos helicopteros. Pela primeira vez numa manifestacao
tinha-se decidido sair pacificamente, tentar nao revidar provocacoes - que
eram muito esperadas, e soh em ultimo caso partir para o contrataque, caso
fossemos reprimidos. Mal deu para sair do acampamento e pegar a rodovia,
que ficava a uns 2 km, e andar uns 100m. A policia comecou a passar pela
lateral e ir em direcao a frente da marcha. Parecia apenas que iria nos
acompanhar, mas chegou a frente e ja foi jogando bambas de efeito moral,
gas lagrimogenio e atirando balas de borracha. Todos de dispersaram. Foi
pedido calma, mas eles continuavam a reprimir. Duas pessoas tentaram
negociar com o comandante que liderava a repressao, mas ele parecia
dopado, com os olhos em uma unica direcao, querendo apenas guerra.
Falava-se com ele e parecia nao ouvir. Apenas gritava: atacar! e os
soldados recomecavam a jogar mais bombas, mais gas e mais tiros. Com isso,
a tentativa de contratacar parecia em vao, pois nao parava de chegar
onibus com mais e mais soldados tanto da PM como do exercito.
Todos correram em direcao a vila dos pataxos que comerarm a nos provacar e
nos chamar de Sem Terra. Correram atras dos manifestantes com pedacos de
paus e nessa altura era inevitavel revidar as provocacoes dos nativos que
eram idios e mesticos. Nesse momento, um negro nativo, que os jornais
chamaram de indio, tentou atacar uma menina com um pedaco de pau e levou
uma pedrada na cabeca de um outro manifestante. Ai a confusao se
generalizou ainda mais. Tinhamos que correr tanto da policia como dos
nativos. Muitos tentavam ir em direcao ao local da Conferencia para se
proteger mais os seguracas nao deixaram e falavam que a confusao era nossa
e nos que tinhamos que resolver.
Foram momentos muito tenso. Todos se dispersaram em varias direcoes. Um
grupo ficou preso numa entrada da Conferencia pelos indios e pela policia,
mas logo foi libertado. Outras pessoas, como eu, se esconderam em
pousadas. A policia comecou a fazer um cerco na regiao e prendeu
arbitrariamente um grupo de 130 pessoas na praia. Esses permaneceram
presos, sob chuva, as margens da rodovia a manha inteira. Mais tarde foram
levados a delegacia onde depois de muita negociacao foram liberados as
15h.
O intuito era mante-los presos para que a atencao dos manifestantes se
voltassem para os presos e nao para as descomemoracoes.
Ao meio dia, os indios que estavam na Conferencia se dirigiram para PS,
passaram pelos presos sem ao menos fazer qualquer tipo de ato, e logo a
frente foram recebidos pela policia da mesma forma que tinhamos sido
recebidos pela manha: bombas de efeito moral, gas e tiros. Sem jeito para
negociacao. Alguns indios tacaram flexas e quebraram um carro da PM. Foi
novamente o mesmo corre-corre da manha. Muitos tentaram se refugiar numa
pousada onde a policia jogou uma bomba de gas lagrimogenio e manteve as
pessoas pressas nela ate o mesmo momento em que as outras, presas pela
manha, foram libertadas.
Dispersado todos, alguns poucos indios se dirigiram aonde ainda se
encontravam os 130 presos e fisseram discursos antes esquecidos.
Dava pra perceber que os indios estavam rachados: uns queriam entregar um
documento ao presidente outros nao. Poucos queriam se unir aos estudantes,
negros, anarquistas, punks, trabalhadores, etc (os Sem Terra nao
consequiram chegar la), e a grande maioria nao. O que se percebe eh que os
indios achavam que seriam melhor auvidos pelos governos se estivessem
sozinhos, numa atitude cooporativista e desunida, esquecendo que os
problemas do povo brasileiro nao eh de apenas um grupo, mas de toda a
sociedade. Parece que eles foram (ou cetamente) o tempo todo manipulado
pelo CIMI (Orgao da igreja catolica que organizou a Conferencia) e pelos
governos que tentaram compra-los fazendo obras pela regiao pataxo em
Cabralia, Corroa Vermelha e PS.
Tambem tiveram os mesmos problemas aqueles que tentaram chegar em PS no
sabado. Ninguem podia entrar de onibus, nem de carro, nem a pe, nem quem
ia apenas fazer turismo. Parecia uma cidade em estado de sitio (e de fato
estava). Dai todos foram para a rodovia a mais bombas, mais gas. Assim era
como a policia agia.
Em todas manifestacoes que ja participei nunca tinha visto tamanha
repressao. O Governo poderia tentar mostrar que 500 anos depois alguma
coisa tinha mudado pelo menos para ingles ver, tentar não fazer uma festa
para aos moldes do colonizador. Mas nao, preferiu agir da mesma maneira
que outrora fomos massagrados pelos portugueses. Exclindo o povo, os
índios, os negros.
Foi ridiculo colocar mais de 1000 pessoas acampadas numa regiao em que o
governo tinha dado um cala-boca aos indigenas e nao ter contactado a
comunidade antes para esclarecer-los. Praticamente nenhum nativo sabia
quem, e porque estavamos acampados ali. Nao deu nem tempo de nos
explicarmos o porque ali estavamos. Sem contar que devido o local ser no
meio do mato, muitas pessoas ficaram em pousadas longe dali e nao puderam
chegar a tempo da marcha. Outros, que chegaram no sabado, tambem nao
puderam entrar em PS. Deveriamos ter resistido mesmo no Centro de PS desde
sexta-feira onde talvez seria mais dificil a acao da policia devido aos
turista. Mas agora sao Outros-500.
Obs1: Ateh as 22h do sabado ainda havia pessoas presas individualmente
pela policia que não tinham sido soltas e muitas outras desaparecidas.
Obs2: Embora este seja um ponto de vista individual, muitas pessoas
compartilharam a mesma opniao no local. Se alguem tiver pontos diferentes
que compartilhem.
@-Abracos,
Rene
From: Anarquista Agnostico Punk anarquista@yahoo.com
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