A herança que renunciamos no ano 2000
Tlahui-Politic 9 I/2000. Información enviada a Mario Rojas, Director de Tlahui. Brasil, a 6 de Enero, 2000. BRASIL: EDITORIAL INVERTA Nº 232 (de 5 a 11/01/2000) http://www.inverta.com.br
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A herança que renunciamos no ano 2000
O Brasil entrou no ano 2000 e os fatos mais importantes destes primeiros
dias, em muitos aspectos, parecem uma mera repetição do início do ano
passado (1999). Para se ter uma idéia precisa desta realidade, basta
arrolar os principais acontecimentos nestes primeiros dias do ano 2000 para
se comprovar: a) a questão militar - denúncia do espancamento de
jornalistas durante o Réveillon de FHC no Forte de Copacabana, e as
declarações de Figueiredo sobre várias personalidades militares e da
política brasileira; b) a questão econômica - queda das ações nas bolsas de
valores do Rio e São Paulo, refletindo a queda na bolsa de Nova Iorque e o
possível aumento da taxa de Juros nos Estados Unidos e Europa; c) e
finalmente, a catástrofe das chuvas e enchentes, atingindo as massas
empobrecidas e miseráveis das grandes e pequenas cidades, refletindo a
precariedade da infra-estrutura urbana por defasagem, corrupção ou falta de
recursos.
Sem dúvida, no ano 2000, o povo brasileiro viverá o desenrolar de uma crise
político-institucional, como demonstram bem a questão militar agora usada
pelo governo; o desenrolar de uma crise econômico-financeira decorrente da
crise mundial do capitalismo e da falência do plano econômico de FHC, como
sugere a queda na bolsas de valores e os temores com as taxas de juros
americanas; por último o desenrolar da crise social em todo o país, onde os
desempregados, sem terra, sem teto e miseráveis, estarão a mercê da
violência, das drogas e das epidemias em massa. Portanto, uma herança
nefasta que não é possível se desvencilhar dela apenas recorrendo-se a
previsões otimistas para a economia do país. Aqui, nada mais enganoso que
fazer previsões otimistas e futuristas para a economia real, em crise,
tendo por base o mercado financeiro. Aliás, o Sr. FHC e Cia, como homens de
negócios e intelectuais, que são, não deviam esquecer a vulgata em economia
de que toda previsão de crescimento espetacular para o mercado financeiro
representa sempre um quadro geral de inadimplência das massas (miséria
absoluta), como aponta a redução da renda funcional na composição do PIB
(representava 50% em 1950; caindo para 45% em 1990; chegando a 36% em
1998) e na crise de superprodução e supercomercialização.
Mas todo o otimismo do mercado financeiro, que se transpõe para as
previsões deslumbrantes do governo, principalmente fundamentadas no
crescimento das exportações e na entrada de capital financeiro, certamente
mostrarão suas pernas curtas. O recente relatório da Aladi mostrou que o
comércio na região se reduziu em 26%, neste ano de 1999. E que a tese de um
possível Crack do sistema financeiro nos Estados Unidos, nas ações do setor
de tecnologia (informática), é uma possibilidade muito concreta; tanto que
o Banco Central Americano (FED) trabalha com a previsão de queda da
economia mundial para o ano de 2000, particularmente dos EUA, como
demonstra sua decisão de aumentar as taxas de juros para conter o
crescimento da economia. A situação é idêntica na Europa Unificada, todos
vivem o mal do Japão e do Sudeste Asiático. Portanto, acreditar no
crescimento econômico do país com base nas exportações, ou seja, no
crescimento do mercado externo, é um verdadeiro disparate. O pior é
acreditar na entrada do capital financeiro para o país, tendo em vista a
falta de liquidez mundial e o que representa, para os investidores, o
aumento da taxas de Juros nos Estados Unidos e Europa. Fazer apologia deste
quadro é o mesmo que cantar loas ao déficit da balança comercial, de 1,1
bilhão de dólares como o menor desde 1994 e esquecer que para isso foi
necessário investir cerca de 1,6 bilhão nas exportações (a conta do déficit
deveria ser de 2,7 bilhões de dólares). Deste modo, tudo não passa de uma
grande piada, ou daquilo que fez a festa das ações de tecnologia
(informática) na Bolsa de Nova Iorque: "O Bug do Milênio"! Um nome mais
apropriado seria "O Golpe do Milênio"!.
Mas se não estivéssemos, neste ano 2000, umbilicalmente ligados ao ano de
1999 por esta herança econômica de crise e miséria, estaríamos pela crise
política e social. No caso dos militares, isto é muito evidente e sintoma
de um quadro que ameaça uma ruptura institucional. Para compreender isso,
basta que uma pessoa séria e politicamente esclarecida observe os vínculos
diretos entre os acontecimentos registrados por toda a imprensa oficial
nestes primeiros dias do ano 2000 e os que finalizaram, literalmente, o ano
de 1999, no que se refere aos militares. Aqui, as denúncias de agressão dos
militares a jornalistas durante o Réveillon do Presidente no Forte de
Copacabana e as declarações do ex-presidente e Gen. João Batista Figueiredo
sobre algumas eminências pardas (Roberto Marinho, ACM, Marco Maciel,
Tancredo, Brizola, etc.) são uma espécie de resposta do governo FHC e das
oligarquias financeiras ao protesto dos militares em desagravo ao
ex-comandante da Força Aérea, Brigadeiro Braüer, que foi demitido porque
condenou o Ministro da Defesa Élcio Álvares por proteger a assessora que
era investigada pela CPI do Narcotráfico, e o golpismo do governo ao
entregar a Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica) e pretender fazer o
mesmo com os aeroportos e o controle do tráfego aéreo.
No entanto, observar esta questão assim é muito incompleto. Na verdade,
todo o processo de desgaste dos militares com o governo de FHC se encontra
no enquadramento do mesmo aos paradigmas neoliberais, onde o mercado
avassala a soberania nacional e as Forças Armadas nacionais perdem seu
sentido pátrio em função do núcleo hegemônico mundial, que hoje é
indubitavelmente o Pentágono, nos Estados Unidos. Mas ali também há
contradições devido à revolução científico-técnica; hoje é notória a
preponderância da Aeronáutica nos combates ofensivos. Naturalmente que a
preponderância de cada arma na estratégia militar acompanhou o
desenvolvimento do capitalismo nestes dois últimos séculos. Quando o
comércio mundial atava cabos da expansão da indústria e finanças, a Marinha
desempenhou o papel principal, como demonstrou o domínio britânico na
economia Mundial até a I Guerra Mundial. Mas o novo Exército de Napoleão
não questionou somente a hegemonia econômica da Inglaterra, mas sobretudo
sua hegemonia militar, abrindo caminho para o ressurgimento e afirmação do
Exército como força preponderante no curso de duas Guerras Mundiais. Mas
não se pode esquecer que no final da II Guerra, os foguetes SS e as bombas
atômicas já conduziam as Forças Armadas a uma nova realidade. E quem não
tenha observado que ao longo do século XX, a Guerra Fria e a corrida
aeroespacial desenvolveram a ciência e a tecnologia revolucionando as
relações sociais de produção capitalista, como demonstram a robótica, a
cibernética e a telemática, então deve se dar conta de que nas três guerras
que encerram este século - Guerra do Golfo, Guerra de Kosovo e a Guerra na
Chechênia - o fundamento decisivo é a Aeronáutica; o mais é suporte de
infra-estrutura marítima e terrestre: forças de ocupação.
Claro que isto depende de país para país, do desenvolvimento tecnológico de
cada um, sua soberania e independência em relação aos que controlam tudo,
aos imperialistas; no caso brasileiro, os EUA. Contudo, em termos gerais,
creio que o eixo político e estratégico pertinente à soberania nacional não
se pode negar. E, desta forma é que se torna perfeitamente compreensível
porque o choque principal entre o Governo e as Forças Armadas, tenha se
expressado principalmente na Aeronáutica. Aqui está em jogo a tecnologia de
ponta que nos poderia fortalecer a independência econômica e a soberania
nacional: no que se refere a foguetes, aeronaves, aplicações de telemática,
robótica, cibernética e outras tecnologias de vanguarda. Mas aí já seria
atrevimento demais para um país como o Brasil, condenado ao
subdesenvolvimento e à dependência tecnológica e militar das grandes
potências. Por isso unir ao plano neoliberal do governo a subordinação das
FFAA brasileiras ao Pentágono sempre foi elemento estratégico para garantir
a política de domínio imperialista dos EUA sobre o Brasil. Afinal, o Brasil
não pode desenvolver a bomba atômica, nem mísseis nucleares; portanto não
pode se proteger de um ataque desta natureza, logo somos totalmente
vulneráveis e entregues. Diante disto, a Marinha nada tem a fazer, a não
ser que desenvolva secretamente o refinamento de urânio, o Exército idem -
idem. Então o que resta? A Aeronáutica e seu MX, seus Tucanos, seus
arroubos de autonomia com parceria chinesa para lançamento de foguetes e
satélites... Portanto aí está o problema... a raiz.
Já no que se refere à crise social, não necessitamos argumentar muito para
demonstrar sua imediata ligação às inundações, perda de moradia, fome e
epidemias que vivem milhares de brasileiros, decorrentes das chuvas e da
precária infra-estrutura de saneamento e serviços públicos de saúde nas
cidades. Neste aspecto, basta perguntar por que o governo atingiu sua meta
firmada com o FMI de superávit primário? Quem sabe, a resposta é simples:
porque o governo não gastou as verbas orçadas e destinadas para os serviços
básicos de saúde e infra-estrutura para as populações urbanas e rurais do
país. A precariedade dos serviços projeta não somente o aumento da pobreza
geral das massas decorrente do desemprego, mas sobretudo uma política de
abandono e aniquilamento das populações miseráveis através de epidemias
(dengue hemorrágico, febre amarela, tifo, malária, leptospirose,
hanseníase, tuberculose), da violência das chacinas, da fome. Não há como
desculpar o governo que demite Guardas de Endemias, que desvia verbas da
Saúde, Educação, Saneamento Básico, para pagar a dívida externa e atender
metas do FMI. Neste sentido, se as chuvas provocam este estrago e ameaçam
com epidemias as populações miseráveis e exploradas, a razão última é senão
a herança da crise social de um regime social falido que planeja exterminar
um terço da população mundial e que no Brasil implica liquidar cerca de
mais de 30 milhões de seres humanos.
Mas apesar de tudo isso, há gente que imagina que bastou mudar o calendário
de 1999 para 2000, que tudo mudou, que esta herança não existe mais, que
tudo ficou para trás, no ano velho...FHC com sua equipe parece acreditar
nisso, confunde a alegria de um povo que ri da sua própria desgraça, porque
ainda não enxerga uma saída em que acredite de fato; mas cedo ou tarde isto
muda. Basta que ele se lembre da vaia que recebeu ao desembarcar para o
Réveillon no Forte de Copacabana. O povo comemorou o ano novo. Mas mesmo no
auge de sua comemoração, não esqueceu de pedir: "Fora FHC!" E mais que
isso, vaiar maciçamente o Presidente. E isto é sintomático, pois se os
militares questionam o governo e o povo vaia, falta apenas a força que
saiba conduzir, harmoniosamente, tudo isto para derrubar este poder secular
das oligarquias sobre o país e as massas populares. Somente com a derrubada
do governo neoliberal e a instauração de um governo revolucionário de
caráter socialista será possível mudar todo este quadro de miséria,
dependência, humilhação e abandono que vive nosso povo e país. Portanto,
todos em defesa do Brasil! Lutar pela soberania nacional e a
autodeterminação de Nosso Povo é lutar pela Revolução Socialista e a
Refundação do Partido Comunista (M-L)!
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